8- Caprese Michelangelo - Sansepolcro Km 25 Montecasale.

8- Caprese Michelangelo - Sansepolcro Km 25  Montecasale.

O dia amanheceu um pouco nublado, mas não havia previsão de chuva, seguimos o caminho que na noite anterior tínhamos visto da sacada do restaurante, uma bela região de montanhas, sem grandes imprevistos, era o que imaginávamos para o nosso dia, as subidas eram relativamente suaves e a paisagem compensava o esforço com suas propriedades rurais .Caminhamos até passar a torre de incêndio sinalizada no mapa, mas logo depois de um cruzamento não sabíamos para onde seguia o caminho. Paramos um pouco, para ver se apareciam às romanas, logo vimos às duas que também não conseguiam decifrar o guia. Ainda bem que não erramos na opção escolhida.
 A Toscana se abria com sua paisagem mais esplendorosa a nossa frente, íamos vendo as velhas vilas, rodeadas do pinheiro toscano, olivais e videiras. Passavam por nós muitos “caçadores de tartufos e cogumelos com seus cães adestrados” da raça Lagotto Romagnolo, antigamente usavam porcos para encontrar os tartufos ou trufas, mas os porcos acabavam comendo a iguaria e também em alguns lugares foi proibido o uso dos porcos por motivos de higiene.
Enquanto caminhávamos um desses cães adestrados, começou a correr na nossa frente, ia e voltava, entrava no bosque e retornava até nós, começamos a perceber que ele era um filhote e estava nos confundindo com seu dono. Resolvemos ignorar o animal para ver se ele voltava para casa, mas nada, ele teimava em nos seguir, atravessamos a Ponte Sigerna e o cão a posto, olhando desesperado pedindo a recompensa. Eu comecei a ficar agoniada, não podia bater no bichinho para ele voltar e já fiquei imaginando a manchete:- “Peregrinos roubam cão de raça”... Meu marido ficou um pouco irritado com minha fértil imaginação. Caminhávamos a margem de uma rodovia, e alguns motoristas nos xingavam, pois o cachorro corria no meio da estrada, o que poderia causar um acidente, tentávamos pegar o cão, mas ele não deixava. Chegamos ao  belvedere e pedimos ajuda a um ciclista, que amarrou o bichinho e se comprometeu de leva-lo até o povoado antes da ponte e achar seu dono. Foi um alívio!
Logo depois do Belvedere havia uma placa que dizia Pallazone, pelo mapa entendemos que o caminho descia em direção ao Pallazone, mas na verdade, era uma residência particular e não havia saída, tivemos que retornar, subindo até a estrada asfaltada, ai sim, vimos a placa, “proibida a entrada- propriedade privada”.Nos caminhos muitas vezes precismos retornar, voltar, verificar onde erramos e recomeçar - Uma bela lição. Depois ficamos sabendo que outros peregrinos cometeram o mesmo erro que nós. Seguimos e fomos contornando o Pallazone e uma barragem do rio pelo asfalto, até uma estradinha de terra. Aproveitamos para parar na beira do lago artificial e fazer um lanche.
A partir daí o caminho era todo em uma estrada de terra, muito fácil de caminhar, mas bastante monótono, e íamos acompanhando o rio Tevere, que no momento me soou familiar, mas que não liguei que Tevere  é o famoso  rio Tibre de Roma  (em italiano: Tevere; em latim: Tiberis) com nascente na Emília-Romanha. Atravessa a Toscana (Sansepolcro), a Úmbria (Città di Castello), depois o Lácio (Orte e Roma) e deságua no mar Tirreno.
 A nossa água foi acabando e não víamos nenhuma possibilidade de abastecer nossas garrafas, esse trecho me lembrou o chamado “ Deserto do Caminho de Santiago”, íamos controlando o consumo de água, e a estrada  quase uma linha reta, parecia não ter fim.Depois de algumas horas, chegamos a um entroncamento, onde esperaríamos pelas romanas, fiquei sentada na sombra de uma árvore e meu marido foi pedir água em uma casa, onde a proprietária foi muito gentil. Logo depois chegaram Luigina e Antonella e seguimos até Sansepulcro. As romanas disseram que iriam pegar uma van que as deixariam no Eremo di Montecasale, a 6,5 Km de Sansepulcro, o que facilitaria a etapa seguinte, ideia que acatamos prontamente. O nosso dia não foi nada fácil. Esperamos a van em um bar, onde  descansamos  um pouco e nos refrescamos do calor escaldante. Antonella avisou por telefone e logo estávamos na van em direção ao Eremo.A estrada era sinuosa e a região de montanhas, com fortes subidas, mais uma vez agradecemos a dica das nossas amigas italianas. Anjos que orientavam o nosso caminho.
O Eremo di  Montecasale é mais um desse lugares emblemáticos do caminho, um lugar místico cheio de energia. Estávamos muito cansados, o que foi uma pena, pois é um lugar que se deve visitar com tempo. http://it.wikipedia.org/wiki/Convento_di_Montecasale
O motorista da van é também o dono do refúgio, que administra, juntamente com a esposa e um casal de filhos adolescentes. Tudo muito limpo e uma boa comida. O refúgio estava lotado com vários peregrinos que faziam os diferentes caminhos até Assis como, A Via do Tau sinalizado pelo Tau  que tem a forma da letra grega (T) que é uma cruz, O Caminho de Francisco e outros. O jantar ao ar livre reuniu os diferentes peregrinos, a maioria jovens, nós éramos da turma dos velhos que faziam o caminho.
 Após o jantar, todos queriam admirar o céu, pois era a Noite de São Lourenço,um dos dias mais esperados e românticos da tradição italiana:onde uma  chuva de estrelas cadentes (ou meteoros) se tornam visíveis na noite do dia 10 de agosto. Alguns chamam de “estrelas dos desejos” ou “lágrimas de São Lourenço”, mas para os astrônomos são rigorosamente as Perseides, ou seja, meteoros que vem da constelação de Perseu. Saímos com Luigina caminhar, mas era noite de Lua Cheia e quase não deu para ver as estrelas. Os pedidos ficarão para uma próxima.
Pela manhã antes do café fomos na missa no Eremo, um momento singular, emocionante, que nos fortaleceu para mais um dia da nossa jornada. 


                  









Nós

Jantar com os peregrinos




  

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